2º Azores Trail Run 48 km – 30 de Maio de 2015

A participação nesta prova começou um ano antes quando, através da web, vi umas fotografias da 1ª edição desta prova e alguns comentários bem favoráveis. De imediato pensei: “Para o ano vou ao Faial procurar estas paisagens”.

Foto: Pedro Silva

Depois da Decisão tomada teria de optar por uma de duas distâncias de prova: os 48 km (Trail Ultra Faial Costa a Costa) ou os 21 km (Trail dos 10 vulcões).

 A 2ª edição do Azores Trail Run, que se realizou dia 30 de Maio de 2015, contou para o Circuito Nacional de Trail Ultra na categoria de Trail Ultra Média grau 2. Desta forma, os atletas que terminaram a prova, entraram para o ranking nacional 2015.

Apesar de a minha experiência em trails não ser muita estava decidido em realizar a prova dos 48 km. Porquê? Porque queria aproveitar o momento os mais que conseguisse e manter a minha teoria: Só fazer provas cujo o tempo seja, no mínimo, o dobro do tempo que levo a chegar ao local de partida (teoria da treta só para chatear os amigos).

Fazendo as contas:

  • 1h00m para chegar ao aeroporto da Portela
  • 2h20m de voo.

Ok. Devia bater certo a teoria. Julgo que não faria uma prova de quase 48 km em menos de 6h40m. Estava tranquilo.

Aguardei pela abertura das inscrições e em Novembro de 2014 lá estava o meu nome na lista dos inscritos do 2º Azores Trail Run mesmo ao lado do Tófol Castanyer (vencedor do UTMB – Ultra Trail do Monte Branco), do Leon Lutz (um americano famoso no mundo do trail com umas enormes barbas) e do Luis Fernandes (vencedor deste ano do MIUT) e outros.

Assim, na lista de partida estariam 4 campeões. Perceberam os quatro campeões ou querem que explique????????

De referir também que a prova Trail Ultra Faial Costa a Costa está entre aquelas que figuram como provas que qualificam para o UTMB – Ultra Trail do Monte Branco.

Alguns meses depois das inscrições e com mais alguns quilómetros nas pernas chegou então o dia.

Objetivos

  • Primeiro: O de todos os dias: Acabar, a bem ou a mal, de cabeça levantada ou de rojo.
  • Segundo: Apreciar a paisagem.
  • Terceiro: Divertir-me.
  • Quarto: Tentar fazer em pouco mais de 6 horas.

Faial, Freguesia da Ribeirinha, 30 de Maio de 2015

O Trail Faial Costa a Costa começou às 9h:00 com cerca de 300 atletas inscritos em direcção ao Porto da Boca da Ribeira de onde se podia ver claramente a ilha do Pico que se “apresentava” mesmo em frente.

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Foto: Paulo Valentim

Depois da chegada ao porto iniciou-se uma pequena subida que passou ao lado de um farol destruído por um terramoto que ocorreu em 1998.

Paisagem bonita esta: o farol à esquerda e, embora com o cume cheio de nuvens, o majestoso Pico à direita.

Comecei a prova bem, (muito bem mesmo) tentando gerir o esforço pois pela análise da altimetria e do gráfico, os primeiros 20 quilómetros seriam a parte mais difícil da prova. Ou seja, seria sempre a subir até à Caldeira.

 Assim sendo lá fomos nós subindo até à Caldeira passando por uma zona a que se dá o nome de Lomba Grande e onde se podem observar espécies florestais e aves.

Como ia a gerir a passada fui tirando algumas fotos. Metro após metro lá ia passando por trilhos fantásticos que fazem parte de passeios pedestres e que ligam toda a ilha.

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Foto: António Pedro Oliveira

Observámos uma imensa vegetação e atravessámos caminhos completamente afastados da luz solar.

 Já perto da Caldeira do vulcão onde assenta toda a ilha, passámos ao lado de um bem conservado parque de merendas (Parque do Cabouco) que oferece todas as condições para excelentes picnics.

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Foto: Paulo Valentim

 Depois disto veio talvez a parte mais chata da prova. Tratava-se de uma subida de cerca de 4 ou 5 km num estradão de bagacina (A bagacina é de origem vulcânica, tem uma composição semelhante ao basalto e pode ser vermelha ou preta) e que passava mesmo ao lado do ponto de partida da prova dos 10 Vulcões onde se encontravam vários atletas a puxar por nós.

A parte seguinte foi das mais impressionantes.

Não sei bem ao certo, mas entre os 25 km e os 30 km chegámos à Caldeira, onde atingimos uma altitude de 1043 metros, fazendo depois um percurso circular (muito irregular) em volta do topo da mesma onde podemos apreciar imagens impressionantes. Acabámos por ter sorte pois o céu estava aberto e podemos ver o fundo da caldeira (no dia anterior tinha estado lá e só consegui ver nuvens).

caldeira

O percurso do perímetro da Caldeira apresenta uma extensão de aproximadamente 7 km com algum grau de dificuldade. Tem um diâmetro de cerca de 2 km e uma profundidade média de 400 m.

Antes de começar a contornar a caldeira já o espanhol Tofol a tinha contornado e descia agora a uma velocidade de cruzeiro. Conclusão: Tinha no mínimo 8 km de vantagem sobre mim.

Percorrida a caldeira (percurso muito irregular) achei que a parte mais difícil estava feita. A julgar pelo gráfico da prova até aos Capelinhos era sempre a descer com ligeiras subidas pelo caminho.

Puro engano. A parte mais dura ainda estava para vir.

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Até apanhar o estradão que descia a Caldeira fizemos um percurso horrível, muito duro mesmo, tão duro que não o consigo bem descrever. No entanto sentia-me muito bem. Até estava a estranhar pois nem vinha “armado” com muito Voltaren e até já tinha deixado as fitas e as ligaduras de parte.

Continuando….

Tivemos de atravessar uma grande área de terrenos cobertos de tufos (chamavam-lhe os Açoreanos) muito atritos a lesões.

Os tufos são uma espécie de montes pequenos que dificultaram muito a corrida. Naquela zona não sabia bem onde colocar os pés pois era tudo muito irregular e em volta dos tufos havia também muita lama. Quando havia um carreiro para correr não havia espaços para os dois pés.

Durante este percurso tivemos de fazer um pouco de “escalada” também pois pelo caminho surgiam grandes degraus.

Nesta fase da prova continuava a sentir-me bem, corria sem grandes sofrimentos e arranjei grandes companhias com um excelente espirito de camaradagem (é isto o trail).

Não fazia ideia qual a posição em que ia mas sabia que estava estabilizado. Não ganhava grandes metros a ninguém e também não os perdia. A única indicação que isto me dava era a forma como me estava a sentir e como me estava a correr a prova. Neste caso bem.

Depois de ultrapassada a fase dos tufos subimos ao lado de um pequeno ribeiro e apanhámos finalmente um estradão de bagacina que nos levou até a um grande percurso das levadas de água.

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Foto: António Pedro Oliveira

As levadas de água encontram-se num trilho muito interessante e correm embutidas numa imensa vegetação de fetos e cedros.

 O percurso da Levada apresenta uma extensão no seu total de 12 quilómetros, no entanto, não o fizemos todo.

Finalizada a Levada, descemos novamente mas agora por um trilho completamente enlameado onde mal se podia correr sem cair. Nesta fase os atletas das duas provas já se misturavam.

Até à chegada tivemos algumas subidas bem duras pois apresentavam uma inclinação algo acentuada.

Apesar de duras eram bem interessantes uma vez que eram compostas por degraus feitos na terra e estancados por raízes de árvores. Nestes degraus as forças já não eram as mesmas.

Outros trilhos vieram no alto de um vulcão/monte de onde se via o ponto de chegada que foram feitos com bastante rapidez.

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Foto: Sónia Medeiros

 A parte final foi fabulosa, das mais bonitas que já vi. Tratou-se de uma descida rápida em plenas cinzas do adormecido Vulcão dos Capelinhos em direcção ao mar e com o antigo Farol a espreitar.

 O Vulcão dos Capelinhos é uma das maiores atracções turísticas dos Açores pois apresenta uma paisagem quase virgem. A sua erupção, em 1957, aumentou cerca de 2,5 km quadrados à ilha do Faial criando assim o território mais recente de toda a Europa.

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Foto: Paulo Valentim

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Cinco horas e cinquenta e quatro minutos depois da partida “chegou” a chegada de uma prova espectacular, dura como tem de ser, mas que se fez muito bem (41º da Geral e 14º do escalão mais forte 😉 – o primeiro classificado era do escalão M40).

Objectivos iniciais quase todos atingidos:

  • Primeiro: O de todos os dias: Acabar, a bem ou a mal, de cabeça levantada ou de rojo.
    • Acabei.
  • Segundo: Apreciar a paisagem.
    • Apreciai a cada metro passado.
  • Terceiro: Divertir-me.
    • Diverti-me imenso.
  • Quarto: Tentar fazer em pouco mais de 6 horas (também devido à tal teoria da treta).
    • Não consegui atingir este objectivo pois fiz menos de 6 horas 😉 (ainda tentei ir mais devagar mas a parte final era a descer).

À nossa espera estava um maravilhoso prato de peixe frito com salada e cerveja à descrição.

Bom, também nesta altura também comia o que aparecesse.

Abaixo apresento um vídeo que editei depois de ter recolhido algumas imagens.

Parabéns à organização, aos voluntários que eram imensos, e aos fotógrafos que apareciam como as formigas, de todo o lado.

Esta entrada foi publicada em Percurso Pedreste, Trail. ligação permanente.

6 respostas a 2º Azores Trail Run 48 km – 30 de Maio de 2015

  1. Jorge Vieira diz:

    Muitos parabéns Paulo excelente prova e excelente aventura! Este será o meu grande desafio para o próximo ano, fico aqui com uma boa base de conhecimentos. Obrigado

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  2. Pingback: Ultra TRail dos Picos da Europa 35 km | 14 de Maio de 2016 | Por trilhos e pseudotrilhos

  3. Trena diz:

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